“VIVEMOS NUM MUNDO ONDE TUDO ESTÁ CONTAMINADO: A ÁGUA, O SOLO, A COMIDA, O AR, OS MEDICAMENTOS, ATÉ AS VACINAS”
“Jovem e Saudável em 21 Dias” é para a farmacêutica e terapeuta Alexandra Vasconcelos um propósito que nos deixa em livro. À conversa, vamos além dos 21 dias, abordamos as etapas para limpar, reparar e regenerar o organismo, “num mundo onde tudo está contaminado”. Abandonar hábitos nocivos e perceber as ratoeiras nos produtos light, BIO, sem glúten ou lactose.
O título do livro que nos deixa “Jovem e Saudável em 21 Dias”, baliza o tempo para o programa que preconiza. Porquê, exatamente, 21 dias?
Segundo vários autores, neurocientistas, psicólogos, 21 dias é o período que permite consolidar alterações de hábitos. Para modificar um comportamento, melhorar uma habilidade ou até alterar ou formar um hábito novo, é necessário manter acesa a chama da motivação e persistir num comportamento por um período suficiente até que esteja consolidado e comece a surgir de forma espontânea, tanto no corpo como no espírito.
Quando algum comportamento se repete por 21 dias, o cérebro cria vias sinápticas mais rápidas que ajudam a transformar os comportamentos em hábitos. É isso que se pretende com o BioReset 21D, criar hábitos que permitem envelhecer de forma saudável, prevenir e mesmo inverter doenças.
No seu livro propõe-nos um teste de avaliação para os nossos perfis emocional e biológico. Há uma ligação entre ambos?
Existe uma relação entre ambos uma vez que o corpo, o espírito e a mente estão intimamente relacionados. O perfil biológico reflete desequilíbrios causados por comportamentos alimentares, défices micronutricionais, stresse, demasiada exposição a tóxicos, a radiações eletromagnéticas ou a microrganismos patogénicos. O desequilíbrio de cada um dos sete perfis biológicos leva a um grupo de doenças específico.
O perfil emocional, permite-nos caracterizar e identificar a causa dos desajustes emocionais, de forma a poder corrigir personalizadamente e contribui claramente para desequilíbrios físicos que levam à doença. Todos sabemos que muitas doenças ocorrem um a dois anos após conflitos ou bloqueios emocionais não resolvidos.
A identificação destes perfis é possível através da análise dos resultados dos inquéritos que os leitores irão preencher no livro e permite personalizar o programa BioReset 21D. Assim, cada pessoa irá optar por suplementos e alimentos de acordo com a sua condição física e emocional.
O seu programa de melhoria de qualidade de vida (BioReset 21D©) é feito em três etapas: Limpeza, reparação e regeneração. Pode explicar-nos sucintamente em que consistem e como se relacionam?
programa BioReset 21D permite prevenir doenças e mesmo revertê-las ou melhorar o seu prognóstico. Está dividido em três períodos de sete dias que correspondem a diferentes fases: Limpeza, Reparação e Regeneração.
As alterações introduzidas durante este período têm o objetivo de preparar o corpo e adaptá-lo para melhor combater e prevenir doenças. No fundo o que o livro propõe é um reset do organismo. Abandonar hábitos de vida nocivos para adquirir novos mais saudáveis e que vão permitir viver com mais qualidade e retardar o envelhecimento.
Durante a vida acumulamos tóxicos que vão esgotando os nossos sistemas de desintoxicação e debilitando o nosso sistema imunitário.
VivemOs num mundo onde tudo está contaminado: a água, o solo, a comida, o ar, os medicamentos, até as vacinas, e inclusivamente os cordões umbilicais dos bebés estão cheios de substâncias químicas que são estranhos aos nossos corpos.
Em concreto, na primeira fase o que podemos esperar?
Na primeira fase vamos, por um lado, limpar e melhorar a nossa capacidade de desintoxicação e a eficiência dos órgãos que participam na desintoxicação, como o fígado, intestino, rins, pele e, por outro, reduzir a exposição a tóxicos. Vivemos num mundo onde tudo está contaminado: a água, o solo, a comida, o ar, os medicamentos, até as vacinas, e inclusivamente os cordões umbilicais dos bebés estão cheios de substâncias químicas que são estranhos aos nossos corpos. Um corpo intoxicado está inflamado e é a causa de quase todas as doenças.
Segue-se a reparação…
Na fase de reparação, o objetivo é a normalização da função intestinal, digestiva e hepatobiliar para assim se dar um impulso ao sistema imunitário. O objetivo é fortalecer esse sistema para levar a cabo todos os processos de reparação.
Já durante os últimos sete dias, fase de regeneração, o objetivo é reinocular micronutrientes, enzimas, vitaminas, probióticos, fibras e aminoácidos que estejam em falta.
Cada fase tem diferentes alimentos associados?
Para cada uma das fases é fornecida uma lista de compras que inclui apenas os alimentos e superalimentos funcionais que ordem ser ingeridos em cada período diferente, bem como as respetivas receitas e ideias para confecionar.
Com este objetivo, paralelamente à alimentação que vai adotar, é proposto no livro uma suplementação com produtos naturais e nutrientes que irão permitir melhorar os sistemas envolvidos nos processos de limpeza, reparação e regeneração do seu corpo e inverter a causa dos desequilíbrios.
São também aconselhadas algumas práticas do dia-a-dia que permitem aumentar a efetividade destas fases, como o banho seco, meditação, enemas (clisteres de limpeza e desintoxicação), detox de digitais, técnicas de equilíbrio emocional e stresse entre muitas outras.
Os rótulos dos alimentos light são verdadeiras armadilhas. Convencem as pessoas de que se é light é bom, e por essa razão o consumo é aumentado.
Uma parte da obra que agora nos dá versa a reeducação alimentar. Para além dos óbvios alimentos que sabemos perniciosos para a saúde, encontramos outras armadilhas nos lineares das superfícies comerciais?
Infelizmente muitos dos alimentos disponíveis nas superfícies comerciais contêm informações de alguma forma enganadoras. O exemplo mais absurdo é sem dúvida a apologia ao consumo de margarinas, algumas ditas amigas do coração. Hoje sabemos que a pior gordura que podemos ingerir é a vegetal TRANS hidrogenada relacionada com inflamação de baixo grau, considerado principal fator de risco para a maioria das doenças, nomeadamente as cardiovasculares (principal causa de morte na europa).
Os rótulos dos alimentos light são verdadeiras armadilhas. Convencem as pessoas de que se é light é bom, e por essa razão o consumo é aumentado. Muitas vezes os produtos rotulados com light têm apenas menos 10 ou 20 % de gordura e em contrapartida estão carregados de açúcar ou conservantes, entre outras substâncias prejudiciais para a saúde.
Agora, estão também na moda algumas palavras mágicas como BIO, sem glúten, sem lactose que fazem as vendas disparar por as pessoas acreditarem que é bom para a saúde. Infelizmente, os rótulos escondidos mostram que alguns destes alimentos estão cheios de açúcar, aditivos alimentares prejudiciais ou outros ingredientes menos bons.
Na sua experiência clínica encontra resistência à mudança dos hábitos alimentares. Quais são os principais fatores que concorrem para esta resistência?
Infelizmente, muitas pessoas ainda não entenderam a diferença entre dietas pontuais para emagrecimento e as mudanças de hábitos e da forma como se alimentam. Todos os dias são publicados trabalhos e estudos científicos que mostram que a melhor forma de prevenção de doenças crónicas passa pela alteração e correção da forma como comemos. A maioria das pessoas ainda recorre à dita dieta apenas com o objetivo de perder peso e entendem-na passageira e necessária apenas se estão gordas. As pessoas magras resistem ainda mais por não entenderem que a mudança alimentar lhes trará saúde.
Um outro problema a ter em conta é a falta de tempo com que as pessoas vivem, o que faz naturalmente que optem por soluções mais rápidas, mais imediatas e disponíveis, que na maioria das vezes são as piores opções alimentares. A adição pelo açúcar é também muito frequente e, como qualquer vício, é necessário uma abordagem maiscuidadosa.
Infelizmente, muitas pessoas ainda não entenderam a diferença entre dietas pontuais para emagrecimento e as mudanças de hábitos e da forma como se alimentam.
Ao longo do programa, fundamente as etapas de forma científica e integrativa. Temos, também, aqui, de olhar para o ser humano de forma holística?
De acordo com a minha interpretação, o envelhecimento saudável depende dos nossos hábitos. Os avanços da epigenética, possibilitados pela identificação completa do nosso genoma, permitiram entender como o ambiente determina a expressão dos nossos genes e aparecimento de doenças. Atitude positiva, modo de vida (estresse, sono, emoções), redução ou eliminação da exposição a substâncias tóxicas, radiações, infeções silenciosas, a alimentação e suplementação apropriada para suprimir défices micronutricionais, são fatores determinantes no controlo da nossa expressão genética e da nossa saúde.
O desequilíbrio do corpo provocado por estes factores induz a inflamação de baixo grau, situação que, não me canso de repetir, está presente em quase todas as doenças.
Os nossos genes, influenciados por vários fatores como alimentação, estresse e modo como vivemos, exposição aos vários tipos de tóxicos, começam a expressar-se mal e condicionam a nossa saúde e a nossa vida. Começam a desequilibrar o nosso ambiente biológico, representado na base da pirâmide e acabam por aparecer processos como a inflamação intestinal, doenças auto imunes, hipertensão, doenças cardiovasculares, alergias, diabetes, cancros e todas as outras que bem conhecemos.
A forma de nos mantermos saudáveis passa por controlar todos estes factores, identificarmos e eliminarmos os pontos desencadeantes de desequilíbrios e de toxicidade e limparmos o nosso espírito e a nossa mente.
O BioReset 21D bem como a proposta para o período pós programa pretendem viabilizar esta estratégia, ajudando a pô-la em prática em cada dia.
Num mundo pejado de informação sobre alimentação e dietas é normal que muitas pessoas se encontrem perdidas. Que estratégias lhes aconselharia para encontrarem o rumo adequado às suas necessidades?
Alterar o conceito de dietas, normalmente subjacente a períodos de tempo, não personalizadas e que não têm em conta a individualidade genética de cada individuo.
Iniciar o processo com um reset do organismo e definir os ajustes alimentares personalizados incluídos num programa completo e integrativo que identifique e corrija alterações metabólicas, conflitos emocionais e modo de vida. É essencial optar por uma alimentação gourmet, saborosa e saciante e ao mesmo tempo personalizada de acordo com vários factores pessoais como a genética, polimorfismos, incompatibilidades alimentares, forma de viver e gostos pessoais.
Atitude positiva, modo de vida (estresse, sono, emoções), redução ou eliminação da exposição a substâncias tóxicas, radiações, infeções silenciosas, a alimentação e suplementação apropriada para suprimir défices micronutricionais, são fatores determinantes no controlo da nossa expressão genética e da nossa saúde.
Parte da sua obra acolhe informação sobre doenças autoimunes. O que são? Vivemos num mundo propenso à incidência destas doenças?
Ao longo do livro dedico capítulos ao entendimento do sistema imunitário. As doenças autoimunes são desequilíbrios desse nosso sistema que se caracterizam por as nossas células imunitárias atacarem o nosso próprio corpo.
Cada vez existe mais este tipo de falhas imunitárias; estima-se que mais de 20% da população possa ter doença autoimune e a incidência está a crescer de forma vertiginosa, sobretudo nas mulheres.
Em todas as doenças autoimunes, a predisposição genética é ativada por factores ambientais. A maior exposição a microrganismos, estresse crónico, poluição, tóxicos, radiações, condiciona então a expressão dos nossos genes e pode estar relacionada com o aumento da incidência destas doenças.
Em todas as doenças autoimunes existe permeabilidade intestinal. Quando o intestino não está bem, as macromoléculas mal digeridas provenientes da alimentação, toxinas, patógenos, alérgenos, entram nos capilares que existem na parede intestinal e chegam à circulação sanguínea. O nosso organismo vai reconhecer estas moléculas como invasores e vai reagir, produzindo anticorpos de defesa que facilmente confundem o alvo.
A abordagem da medicina clássica relativamente às doenças autoimunes limita-se ao uso de medicamentos que permitem melhorar a qualidade de vida dos doentes, reduzir a dor e travar os processos degenerativos.
Ao longo do livro explico como deve agir para prevenir, inverter e minimizar a doença autoimune, normalizando os níveis de inflamação e equilíbrio da resposta imunitária.
Usa a expressão “acalmar o sistema imunitário”. Pode explicar-nos, por favor?
Considero que a solução terapêutica utilizada na medicina convencional e que passa pela prescrição de anti-inflamatórios, corticosteroides, medicamentos imunossupressores permitem apenas “acalmar” o sistema imunitário e abafar os sintomas exacerbados que normalmente estão associados a estas doenças. Tal como explico no livro a abordagem da doença autoimune deve ir ao encontro da identificação da causa, correção do perfil biológico, identificar haptenos e essencialmente tratar o intestino.
Aconselha o jejum intermitente. Que benefícios tiramos desta prática?
Desde há muito que se fala dos benefícios do jejum intermitente: o prémio Nobel da Medicina de 2016 atribuído ao Japonês Yoshinori Ohsumi cujo tema incidiu na descoberta de mecanismos de autofagia, veio mostrar como as células sobrevivem em períodos de jejum e de infeções.
Se fizermos uma pesquisa, na biblioteca científica virtual Pubmed, por exemplo, encontraremos mais de 1000 artigos que concluem haver benefícios para a saúde na introdução de períodos de jejum durante o dia ou 24 horas de jejum por semana. Existem centenas de livros publicados em todo o mundo, basta pesquisar no site da Amazon.com, que apresentam vantagens validadas cientificamente, na prática do jejum intermitente.
Segundo Ohsumi, as células têm a capacidade de se envolver em autofagosomas e depois em lipossomas (vesículas que existe no seu interior), toxinas, vírus, bactérias e outros componentes que existem no interior da célula e que devem ser eliminados. Estes organitos celulares, como têm esta capacidade de fagocitar, eliminam também proteínas problemáticas para o corpo e restos danificados, permitindo a reparação e regeneração celular. Este processo de autofagia constitui uma resposta fundamental da célula e acontece em fases de privação de alimentos (jejum) ou outras situações de stresse celular como as infeções. A autofagia é de extrema importância para a regulação celular, cuja desregulação está implicada no envelhecimento prematuro e associada a doenças crónicas como Parkinson, cancros, diabetes, obesidade entre outras.
Os períodos maiores sem comida ajudam a baixar os valores da insulina, da glicemia e o corpo começa a aprender a usar a gordura que tem armazenada no corpo, nomeadamente a mais perigosa que está armazenada na cavidade abdominal. Resumidamente o jejum intermitente permite queimar gordura e não músculo, aumentar a produção da hormona de crescimento (GH), acelerar o emagrecimento, aumentar a sensibilidade à insulina, aumentar a sensação de bem-estar e saciedade, mais energia e aumento do metabolismo basal, reverter a diabetes tipo 2.
Por se tratar de uma prática com enormes benefícios para a saúde, explico também no livro as formas como deve fazer jejum intermitente para que não corra riscos e apenas usufrua das vantagens desta prática.
O seu livro traz-nos uma paleta rica de receitas. O que orientou as suas decisões para a compilação das propostas que nos apresenta?
As receitas, ou melhor ideias para pratos, que apresento em cada fase do programa foram desenvolvidas com o objetivo de introduzir no nosso dia-a-dia alimentos que, pelas suas propriedades funcionais e terapêuticas, permitissem levar a cabo de forma mais eficaz as várias fases do programa. Por outro lado, por ser diariamente confrontada com os desabafos dos pacientes relativamente à pouca criatividade e imaginação para misturar ingredientes e inventar combinações interessantes, achei importante dar ideias simples que se concentrassem mais na combinação de ingredientes do que propriamente em confeções complicadas. A pouca diversidade e paladar das receitas associadas a programas alimentares ditos saudáveis, é talvez o fator determinante no abandono dos mesmos.
Para a fase de manutenção incluí receitas e ideias muito simples e de rápida confeção, ajustadas ao pouco tempo que a maioria das pessoas tem para cozinhar. Apresento outras mais tradicionais introduzindo apenas pequenas alterações com vista a torná-las mais equilibradas. O grande objetivo foi apresentar várias soluções e estas ideias servirem também de base para inovar e criar outras ainda melhores.
A tabela que apresento, de substituição de alimentos prejudiciais à saúde por alimentos saudáveis, permite que se recrie receitas antigas tornando- as mais ricas em micronutrientes e mais ajustadas aos nossos metabolismos.
Dra. Alexandra Vasconcelos
Farmacêutica e Naturopata
Especialista em Medicina Natural Integrativa
Pós graduada em Nutrição Oncológica, Nutrição Ortomolecular e Medicina Integrativa e Humanista
Autora do Livro “ O segredo para se manter Jovem e saudável”
Diretora técnica das Clínicas Viver