A nossa boca é um reflexo da nossa saúde em geral. Não é por acaso que segundo a filosofia chinesa que a língua é a abertura para o coração, e esta teoria pode ser aplicada a toda a cavidade oral. O que comemos, algumas doenças que temos, e medicação que fazemos, tudo pode ter a sua manifestação oral. Mas o contrário também pode ser verificado, ou seja, determinados problemas orais refletirem-se na saúde em geral.
Cárie dentária e alimentação
Vejamos o caso do problema oral mais comum: as cáries dentárias. Para além da eficácia da escovagem ser um factor determinante para o seu aparecimento, o tipo de alimentação que fazemos também entra para a equação. É necessária a existência de hidratos de carbono (provenientes da nossa alimentação) para o desencadeamento das cáries dentárias, como tal, é possível um maior registo de cáries dentárias em pessoas que fazem vários snacks à base de hidratos de carbono, ao longo do dia. Este hábito promove uma constante exposição dos dentes ao factor desencadeante. Se levarmos este pensamento mais à frente, em situações em que as cáries não são tratadas ao ponto de perder os dentes, a alimentação dessa pessoa não poderá ser tão equilibrada como uma pessoa com os dentes todos. Esta já terá dores ao mastigar, não irá conseguir ingerir todo o tipo de alimentos para uma alimentação variada e saudável. Neste caso, já temos um exemplo de como a saúde oral pode influenciar a saúde em geral.
A influência da saúde oral na saúde em geral:
Doenças gengivais e doenças em geral
Um dos outros problemas mais frequentes em consulta é a doença periodontal, onde existe um processo inflamatório dos tecidos de suporte do dente. Esta doença é muito mais difícil de controlar em pacientes diabéticos, pelo seu poder de cicatrização estar diminuído. É importante, por isso, neste tipo de pacientes fazer um controlo mais frequente de modo a prevenir o seu aparecimento.
A relação com a doença cardíaca
Existem já diversos estudos que comprovam o relacionamento entre as doenças cardiovasculares e a periodontite e gengivite. Isto porque nestas patologias orais, existem colónias bacterianas na gengiva, que entram facilmente na corrente sanguínea, podendo depositarem-se em gordura localizada nos vasos do coração levando a formação de coágulos e provocarem problemas cardíacos.
A influência da medicação na saúde oral
A doença do séculos XXI é muito provavelmente a depressão. O consumo de antidepressivos aumentou na última década. O problema oral mais frequente nestes pacientes é a boca seca, também chamada de xerostomia. É um efeito secundário destes medicamentos, que leva à diminuição da produção de saliva. A saliva tem um papel fundamental no início da digestão e na formação do bolo alimentar, protege toda a mucosa oral, mantém o pH do meio oral, e desta forma poderá ajudar a defender contra a cárie dentária. A nível de saúde geral, pode estar na causa de inflamações do esófago e aparecimento de úlceras.
Alimentação ácida e o seu impacto no esmalte
Quando um paciente chega à consulta com queixas de sensibilidade dentária, e aparentemente não há justificação clínica para tal, é sempre importante questionar que tipo de alimentação o paciente faz. Um consumo muito frequente de alguns refrigerantes com o pH muito baixo, vinagre, sumos de limão e laranja vai causando desmineralização ao esmalte dentário, podendo provocar sensibilidade dentária.
Em casos de distúrbios alimentares, como a anorexia e bulimia, também é frequente registar desmineralizações (e consequentemente sensibilidade dentária), associado à indução de vómito. Semelhante a estas situações, é também o caso de pacientes com reflexo gastroesofágico. É sempre importante sinalizar estes pacientes, de modo a adoptar medidas preventivas para minimizar o desconforto provocado.