O Plástico MATA
A propósito do estudo publicado recentemente no Environmental Science & Technology, dirigido por uma equipa de cientista da Coreia do Sul, parece-me oportuno escrever sobre a tremenda e aparentemente incontrolável poluição da nova era – A proliferação e acumulação do plástico no planeta.
O estudo em questão analisou 39 marcas diferentes de sal provenientes de várias partes do mundo, identificou a presença de microplásticos em 36, concluíndo que 92% das amostras estudadas continham micro partículas de plástico.
Conclusões do estudo levado a cabo por cientistas da Environment Agency Austria e da Universidade Médica de Vienna, publicadas no jornal científico United European Gastroenterology Journal, concluem que após análise das fezes dos participantes, todas as amostras continham plástico.
Estes estudos recentes chamam, uma vez mais, à atenção para a polémica da proliferação e acumulação do plástico nos oceanos, nos animais e em todo o planeta, mas correlaciona também a sua acumulação com a nossa saúde.
Apesar de sabermos que a produção global de plásticos cresceu de 50 milhões de toneladas em meados da década de 1970 para quase 300 milhões de toneladas hoje, dou conta que a consciência é muito pouca, constatamos que são raras as pessoas (público, comerciantes, indústria, retalhistas etc) que recusam o uso de sacos de plástico e oferecem soluções alternativas, em papel ou pano, por exemplo.
Entendi escrever sobre o plástico porque infelizmente constato que apesar de já se falar, com alguma insistência no impacto que o plástico tem no ambiente onde vivemos, quase nada se fala no impacto que esta tremenda poluição tem na nossa saúde. Afinal de contas o plástico, que destrói o planeta porque perpétua eternamente, também nos mata silenciosa e rapidamente. É disso que vou falar neste artigo.
Muitas pessoas responsáveis nestas áreas, continuam à espera de mais estudos científicos que validem a nocividade do plástico nos nossos metabolismos e que se definam regras ou “guide-lines” para o uso ou exclusão de alguns produtos definitivamente das nossas vidas. Enquanto esperamos que as autoridades sanitárias validem regras, o plástico vai nos matando de forma silenciosa.
Não só o sal está contaminado por plástico, os peixes que comemos também acumulam essas partículas. O plástico que boia nos mares e oceanos engana os peixes e estes, inadvertidamente, ingerem-no confundindo-o com algas e plâncton. No entanto, estudos recentes apontam para o facto dos peixes não ingerirem plástico apenas por engano. Investigadores da Universidade da Califórnia e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos fizeram testes com anchovas que mostram que quando o plástico é misturado com água salgada e se começa a desintegrar, libertam um odor semelhante a krill – uma espécie similar ao camarão.
Ao entrar na cadeia alimentar, o plástico assume um papel determinante não só na poluição do planeta, como na saúde pública.
Estima-se que nos últimos 40 anos, a quantidade de pedaços de plástico a flutuar nos oceanos tenha aumentado mais de 100 vezes. Cerca de 7 milhões de toneladas de resíduos são despejados nos oceanos, cada ano, afetando mais de 600 espécies. Inacreditavelmente, apenas 9% do plástico produzido é reciclado, todo o resto, 91%, deposita-se no planeta, acumula-se nos oceanos, mares constituindo verdadeiros depósitos de lixo.
As micro partículas de plástico, dispersas e acumuladas no ambiente onde vivemos, podem entrar na corrente sanguínea e provocar doenças, toxicidade por acumulação nos órgãos, alterações imunitárias e mais um sem número de interferências negativas no nosso equilíbrio homeostático e portanto na nossa saúde.
A situação é agravada pelo estado inflamado do intestino da maioria das pessoas e muitas vezes as junções a nível dos enterocito (células do epitélio intestinal) não se mantêm apertadas, tornando o intestino poroso, o que chamamos de leaky Gut. Obviamente que esta circunstância, alteração da permeabilidade intestinal, viabiliza ainda mais a passagem de tóxicos para o sangue, nomeadamente os micro plásticos.
Para além da toxicidade directa do plástico por acumulação nos nossos orgãos, estes materiais constituem a maior e talvez a mais importante fonte de disruptores endócrinos.
Disruptores endócrinos (DEQ) – O QUE SÃO
São substâncias que funcionam como se fossem hormonas, ou seja, mimetizam a ação dos estrogénios e outras hormonas no nosso corpo.
Os DEQ têm três efeitos básicos:
- Aumentam a expressão de uma hormona,
- Bloqueiam a sua atividade
- Ou alteram o seu efeito.
Os DEQs podem perturbar muitas hormonas diferentes, e por isso têm sido associados a inúmeros aspectos adversos à saúde humana, incluindo alterações na qualidade e fertilidade do esperma, anormalidades nos órgãos sexuais, endometriose, puberdade precoce, função do sistema nervoso alterado, função imunológica, certos tipos de cancro (hormonais), alterações metabólicas como a diabetes, obesidade, problemas cardiovasculares, crescimento, deficiências neurológicas e de aprendizagem entre outros que se descobrirá no futuro.
A ação dos disruptores endócrinos é altamente preocupante uma vez que todas as nossas funções metabólicas são comandadas por hormonas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU) publicaram, em 2012, um relatório conjunto, intitulado Global Assessment of the State-of-the-science of Endocrine Disruptors, onde fica claro que os desreguladores endócrinos têm “efeitos subtis, mas duradouros, nos tecidos biológicos” e que as “alterações hormonais que provocam vulnerabilizam o sistema nervoso”.
As doenças, como a diabetes tipo 2 aparecem cada vez mais cedo. Considerada como uma “doença de adultos”, agora vemos crianças ainda muito novas com diabetes tipo2. Esta disfunção metabólica está intimamente relacionada com a concentração de disruptores endócrinos, ou seja, substâncias que mimetizam a hormona, que se ligam aos recetores impedindo que a verdadeira hormona atue.
Plásticos funcionam como disruptores endócrinos
O plástico é sem dúvida o maior disruptor endócrino, no entanto, existem várias substâncias, naturais ou de síntese que funcionam também como desreguladores hormonais e que encontramos em pesticidas, cosméticos, produtos de higiene, produtos químicos, protetores solares, nas águas, nos medicamentos, materiais dentários etc.
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Onde estão presentes os plásticos
- Alguma comida;
- Latas com revestimento de plástico;
- Embalagens de alimentos, cosméticos, não só na própria embalagem como no conteúdo;
- Garrafas de água e refrigerantes;
- Brinquedos de crianças;
Como evitar
- Não use plásticos;
- Não coloque alimentos em recipientes de plástico, especialmente se os alimentos estão quentes ou vai aquecer ou congelar;
- Evite água em garrafas de plástico, provavelmente já estiveram expostas a maiores temperaturas o que permitiu a libertação de bisfenol para a água;
- Evite que as crianças brinquem com brinquedos de plástico, ricos em BPA;
- Evite comprar alimentos armazenados em recipientes de plástico;
- Tenha em atenção a classificação dos plásticos através da interpretação do símbolo constante nas embalagens. Os plásticos com os símbolos 3 e 7 são os mais prejudiciais uma vez que contêm Ftalatos.
Para bem de todos, é fundamental reduzir drasticamente o uso do plástico especialmente o que é usado em produtos alimentares e aprender a separar o lixo para podermos aumentar a reciclagem.
Alexandra Vasconcelos
https://alunosonline.uol.com.br/quimica/simbolos-reciclagem-plasticos.html
Bibliografia
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3222987/figure/f3/
http://elplasticomata.com/salud-humana/
https://www.niehs.nih.gov/health/topics/agents/endocrine/index.cfm
https://static.ewg.org/pdf/kab_dirty_dozen_endocrine_disruptors.pdf
https://www.niehs.nih.gov/health/materials/endocrine_disruptors_508.pdf
https://endocrinedisruption.org/
https://www.endocrine.org/topics/edc
https://www.hormone.org/hormones-and-health/endocrine-disrupting-chemicals
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https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214750017300288
Alexandra Vasconcelos
Farmacêutica e Naturopata
Especialista em Medicina Natural Integrativa e Biorressonância.
Pós graduada em Nutrição Oncológica, Nutrição Ortomolecular e Medicina Integrativa e Humanista
Autora dos Livros: “ O segredo para se manter Jovem e saudável” e “Jovem e saudável em 21 dias – Programa para reeducar o seu sistema imunitário, prevenir e reverter doenças”
Diretora técnica das Clinicas Viver