Serão assim tao perigosos estes produtos? Porquê esta febre? Será esta a melhor utilização destes produtos? Podemos tirar algum partido do carvão e do côco para a nossa saúde?
A tendência actual na medicina dentária é que seja utilizada uma abordagem integrativa e biológica com os doentes. Este conceito está bastante difundido na Europa, no entanto, em Portugal pouco ainda se fala.
Esta abordagem é desafiante e implica uma grande responsabilidade por parte dos médicos dentistas, isto é, somos constantemente obrigados a não olhar só para a boca dos doentes e a aplicar as nossas aptidões técnicas para passarmos a ter que relacionar os vários aspectos da saúde oral com a saúde fisica mental e espiritual daquele doente em particular. A forma como a pessoa vive, a sua alimentação, os seus hábitos, as suas preferências, os seus conflitos interiores, a saúde e os factores de risco que apresenta são questões que passam a ter extrema importância mesmo para nós médicos dentistas.
Hoje em dia, recebo diariamente pessoas no meu consultório que me “assaltam e provocam” com perguntas aparentemente cada vez mais “fora da caixa”. E, graças à minha preocupação e interesse por esta nova abordagem obrigo-me sempre a manter actualizada recorrendo a diversas formações para poder dar respostas concretas aos meus doentes. Além disso, e como fundamentais aliados, trabalho inserida numa equipa de colegas naturopatas, nutricionistas, terapeutas modo de vida, acupuntores, osteopatas, entre outros, que me permitem oferecer esta abordagem integrativa, biologica e preventiva.
Mas atenção, esta área está a crescer, e, com ela surgem também os fundamentalismos! Temos que estar bem preparados, como profissionais de saúde mas também como clientes/doentes, para termos as ferramentas e as pessoas certas que nos ajudem a decidir e saber optar pelo que é benefico e distinguir o que não é! Todos os dias surgem milhares de produtos, “pilulas e elixires milagrosos”, abordagens topo de gama super mega “BIO” e é natural que fiquemos todos baralhados. Além de ficarmos baralhados ficamos também altamente seduzidos por esta corrente bio e “cegamos”, ficamos obsecados e perdemos a noção e o bom-senso. As prioridades invertem-se! É nesta altura que é frequente cruzar-me com doentes que deixam de escovar os dentes convenientemente, recorrem a produtos pouco ou nada recomendados, bochecham com aguardente e afins, cortam nos alimentos indiscrimindadamente sem terem sido devidamente avaliados e entram rapidamente numa cascata de “degradação”. Não é este o objectivo! Atenção! Muita Atenção!
Não me oponho às pastas dentífricas caseiras, desde que formuladas com os melhores ingredientes; não encontro problema algum em querer branquear os dentes desde que feito por um profissional indicado; também não vejo inconveniente em utilizar produtos derivados do coco ou carvão activado desde que aplicados de forma correcta e para as indicações adequadas!
E com esta introdução que considero ser fundamental para alertar as pessoas, reporto-me agora sim para o ALERTA DA DECO sobre os produtos branqueadores à base de carvão e casca de côco.
Como é que os dentes escurecem?
Todos nós sabemos que as bebidas como o café, o vinho ou o chá, o tabaco e alguns alimentos com maior pigmento podem escurecer os dentes com o tempo. Também sabemos que a idade, algum tipo de medicação e hábitos de higiene oral menos correctos aceleram muito o escurecimento dos dentes. Ora, a primeira coisa que temos que distinguir, e aí sim é muito importante a avaliação feita por um médico dentista ou higienista oral, é se o pigmento dos dentes é interno ou externo! Quando a pigmentação é externa, isto é, está agarrada à superfície exterior do esmalte uma consulta de higiene oral com destartarização, polimento e jacto de bicarbonato é o suficente e o mais indicado para voltar a ter os dentes da cor que tinha. Quando o pigmento já é interno, significa que a dentina (camada mais interna do dente) já está escurecida. Nesses casos, o branqueamento feito ou recomendado por um profissional será sempre o mais indicado, o mais controlado e com resultados mais previsíveis e seguros. Quando nestes casos os doentes recorrem a produtos de venda livre, vendidos nas farmácias, internet e supermercados, têm que ter consiciência que o resultado de branqueamento obtido é à custa do desgaste dos dentes que vai ocorrendo à medida que os produtos são utilizados. Com os branqueadores à base de carvão ou de côco acontece exatamente a mesma coisa. Estes produtos utilizados em forma de pasta ou creme com o intuito de escovar com escova possuem um nível de abrasão muito agressivo para o esmalte não branqueando a pigmentação interna da dentina.
No entanto, é uma pena que estes produtos que têm virado “moda” possam destruir uma fortissima aplicação do carvão e do côco na medicina dentária! Estes dois produtos, quando utilizados correctamente são fortes aliados na medicina dentária integrativa e biológica.
O côco quando utilizado na técnica de “oil puling”, isto é, bochechos com óleo de coco durante pelo menos 10 minutos, apresenta inúmeros benefícios na remoção de toxinas produzidas e acumuladas na boca, língua, mucosas e saliva. Estudos indicam resultados equivalentes ou superiores a elixires ou colutórios à base de clorexidina.
O carvão activado, é uma solução bastante simples e acessível para poder atrair os iões metálicos que vão ficando acumulados na cavidade oral e com isso fazer uma quelação/desintoxicação localizada dos metais pesados, principalmente do mercúrio que é libertado sob a forma de vapor das restaurações a amálgama (chumbo). Basta pensarmos que os filtros utilizados nas máscaras próprias para protecção de vapores de mercúrio são feitos à base de carvão activado! Desta forma, e quando o doente tem muitos dentes com o vulgar “chumbo” e as gengivas e mucosas com a presença de muitas tatuagens de amálgama é frequente recomendarmos os bochechos com uma pastilha de carvão activado dissolvida em água.
Tenha bom senso, peça ajuda e faça boas escolhas!
Joana Vasconcelos e Cruz
Médica dentista, com abordagem integrativa e biológica