Barriga inchada é um termo frequentemente usado para descrever uma sensação de aumento do volume abdominal, normalmente associada a uma sensação de desconforto. No entanto, o termo correto para designar barriga inchada é distensão abdominal. A sensação de enfartamento ou ficar com o estômago dilatado é uma sensação muito subjetiva e pode estar na origem de diferentes problemas, assim como formas de tratamento diferentes.
A distensão abdominal pode estar relacionada com diversos fatores, incluído a acumulação de gases, a obstipação, uma alimentação incorreta ou stress.
Alterações ao nível da acidez do estômago, da flora intestinal e da motilidade gástrica, como por exemplo a obstipação, podem conduzir a este tipo de sintomas.
Ao nível das emoções, a ansiedade e a preocupação podem conduzir a alterações digestivas. Em alguns casos a ansiedade ou mesmo o pouco tempo para a refeição levam a que ocorra uma má insalivação e/ou mastigação dos alimentos.
Por sua vez uma alimentação incorreta apresenta efeitos ao nível digestivo, podendo dificultar o processo digestivo.
Existem vários factores que se relacionam com o inchaço abdominal, dentro dos principais inclui-se:
Desequilíbrios emocionais
Os intestinos contêm mais de 100 000 milhões de neurónios, sendo o órgão que possui mais neurónios depois do cérebro e da medula. Este é muitas vezes chamado de “segundo cérebro” devido à diversidade de células neuronais e circuitos complexos que permitem regular de forma autónoma muitos processos intestinais.
Cerca de 95% da serotonina (substância química que regula diversas funções, entra as quais o humor) é produzida no trato gastrointestinal pelas células enteroendócrinas e pelos neurónios serotoninérgicos do sistema nervoso entérico. A serotonina trata-se de um neurotransmissor importante, estando envolvido na interação entre o sistema nervoso entérico e o sistema nervoso central, apresentado funções ao nível do trato gastrointestinal e, consequentemente podendo afetar a sensação de motilidade e secreção intestinal. Como tal, situações de maior ansiedade, stresse e preocupações podem estar na origem de alterações no trato digestivo.
Obstipação
A obstipação ou “prisão de ventre” como também é conhecida consiste na dificuldade em evacuar de forma regular ou na diminuição do volume e peso das fezes. Consequentemente ocorre uma maior produção de gases assim como um mau funcionamento intestinal, sendo uma das causas possíveis para a distensão abdominal.
No entanto, a obstipação pode apresentar-se como idiopática, ou seja, não ter causas definidas, mas pode também ser derivada do estilo de vida, hábitos alimentares, stresse, sendo assim importante a identificação da mesma.
Síndrome do Intestino Irritável
A síndrome do intestino irritável trata-se de uma doença multifatorial que afeta o bom funcionamento intestinal. Nesta, o intestino reage de forma mais violenta a estímulos, especialmente aos alimentos e stresse.
Como tal, ocorre uma alteração da motilidade dos mesmos e o paciente apresenta diversos sintomas tais como, obstipação e/ou diarreia, sensação de barriga inchada, dor e cólicas abdominais, flatulência, mal-estar, cansaço, náuseas entre outros. No caso da distensão abdominal, esta pode surgir devido a uma dilatação do cólon por uma produção excessiva de gases.
SIBO
A SIBO (Small Intestinal Bacteria Overgrowth) é uma condição na qual ocorre uma alteração tanto na quantidade, devido a um crescimento bacteriano excessivo, assim como na qualidade da microbiota intestinal, no intestino delgado, estando aqui envolvidas espécies bacterianas benéficas e patogénicas. O sobrecrescimento de bactérias conduz ao aumento da fermentação intestinal, ocorrendo uma maior libertação de gases, sendo esta responsável por sintomas como distensão abdominal, diarreia e dor.
Intolerâncias Alimentares
As intolerâncias alimentares podem também causar distensão abdominal, assim como flatulência e diarreia. Nestas o intestino é incapaz de digerir certos alimentos, sendo mais comuns a intolerância ao trigo ou glúten e aos produtos lácteos (lactose). No caso da intolerância à lactose o intestino não é capaz de digerir a lactose (açúcar presente no leite e derivados).
Neste tipo de situações a melhor abordagem é, após a identificação do alimento causador de intolerância, a redução do seu consumo ou mesmo a sua exclusão.
Alimentação
Uma dieta caracterizada pelo consumo de hidratos de carbono refinados e substitutos do açúcar podem levar a alterações na microbiota e consequentemente na saúde. Tem vindo a ser demonstrado que uma alimentação rica em FODMAPs (oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis) pode desencadear sintomas como por exemplo, inchaço abdominal, dor, alteração dos hábitos intestinais (diarreia e/ou obstipação) e uma maior produção de gases. Os FODMPAs representam um grupo de alimentos que contêm oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis que são mal absorvidos no intestino delgado e fermentados por bactérias, desencadeando estes sintomas.
Uma restrição excessiva e prolongada de FODMAPs pode apresentar consequências nutricionais a longo prazo, sendo necessário a identificação dos mais reativos e permitir desta forma um reajuste a nível alimentar.
Torna-se, assim essencial a identificação de qual ou quais as possíveis causas destes sintomas, permitindo a melhor forma de atuação, trabalhando diretamente na causa e não apenas tratar o sintoma.
Ana Claudia Ferreirinha
Nutricionista nas Clinicas Viver
Referências:
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